Já percorri o caminho que outros tantos já percorreram, uma parte ainda quer e uma minoria desistiu de percorrer.
Andei anos na estrada do “mais”.
Corri para ter mais dinheiro, mais status, mais poder. Quis ter o carro “mais”, a empresa “mais”, a casa “mais”.
O interessante é que quando iniciei nesta estrada, as primeiras conquistas “mais” propiciaram uma imensa experiência de felicidade. E aí começaram a se formar crenças que foram me deixando cada vez mais refém desta mesma estrada. Acreditei que se eu estava feliz no km 10 desta rodovia, eu estaria ainda mais feliz no km 20. E desta forma, eu acelerei rumo ao “dobro mais”.
E assim, cheguei. Cheguei mais e ultrapassei. Fui no km 20, no 30, no 40… Andei, andei e andei. Fiquei longe do fim desta estrada e confesso que até hoje ainda não aprendi se ela tem mesmo algum ponto final. Mas também fui longe o bastante para perceber que o meu grau de felicidade real (e não aquela que aparentamos nas redes sociais) estava cada vez “menos”.
Então resolvi criar a minha própria rota. Não é a rota mais romântica, nem a rota mais charmosa. Não está na revista Caras nem no guia “10 rotas para se conhecer antes de morrer”. Está na minha mente, no meu coração e na minha fala com as pessoas que são importantes para mim.
É uma estrada de chão batido. E para quem já se acostumou a andar em altas rodovias, o início parece muito estranho. Me surpreende que é uma rodovia cercada de “menos”. Menos pressão, menos cobrança, menos crítica. É um caminho onde fofocamos menos, julgamos menos e nos permitimos menos sacrifícios. Nele há menos marcas, menos glamour, menos troféus. Me espanta ver, infelizmente, que nele também há menos torcida.
Assim como da outra vez, ainda não percorri a estrada toda. Com frequencia me pego querendo dirigir da mesma forma que dirigia na rota “mais” e me esqueço que aqui se dirige diferente. Em outros momentos preciso usar da minha disciplina para me adaptar a ser “menos” para então ser mais.
Ainda não sou um motorista altamente qualificado para a estrada do “menos”, mas já não me vejo voltando para a estrada do “mais”.
Ainda tenho muito o que aprender com a estrada do “menos”, mas o caminho é prazeroso e compensador.
Nesta rota em que eu reflito, aprendo e me adapto, eu também percebo que tudo é diferente. Fico menos tempo no computador e mais tempo abraçado na minha mulher. Menos tempo lendo notícias e mais tempo brincando com meu filho. Participo de menos reuniões e pratico mais os meus hobbies. Me proponho a ganhar menos dinheiro, mas aprendo a usa-lo melhor. Mando menos e-mails de cobranças e mais recados de saudades. Digo menos “você deveria” e mais “você é importante para mim”. Valorizo mais uma chícara de café, uma conversa com amigos, uma piada engraçada, um carinho repentino. Me permito mais, me culpo menos.
Admito que ainda não estou 100% lá, mas esta é a minha rota. Aquela que eu escolhi para percorrer nesta vida.
Alguns amigos acham que enloqueci, ou que até mesmo, pasmem, mudei minhas preferências sexuais. Não julgo eles. Quando andava nas glamurosas rodovias, eu nem mesmo sabia que era possível montar a própria rota. E uma coisa eu preciso confessar, andar na estrada do “menos”, por mais paradoxal que seja, dá muito mais trabalho. Afinal não temos placas de sinalização do tipo “compre e seja feliz”. Não temos guias. E mesmo para aqueles que já percorreram este tipo de rodovia, eles não podem me ajudar pois a rota é minha e apenas eu posso compreende-la.
Nesta nova estrada eu não viro notícia. Pouquíssimos me aplaudem e muitos não me compreendem.
Mas a estrada do “menos” me traz muitas coisas mais. Conforme vou percorrendo, tenho mais saúde, mais momentos com as pessoas que amo e mais permissão para os momentos que me fazem feliz. Agora tenho mais tempo para ficar comigo e por consequência, pensar em mim. Nesta estrada me conecto mais com pessoas, coisas e experiências que terei orgulho de contar que foi a minha história, a minha escolha.
Quando eu for velho e meus netos quiserem saber que estrada eu percorri, direi apenas que foi a minha estrada e que não me arrependo de ter abandonado a estrada do “mais”.
A estrada do “menos” se apaga a cada km percorrido, de forma que cada um precisa percorrer a sua. A estrada do “mais” é a estrada dos outros.
A cada novo km na estrada do “menos”, um pedaço do “mais” também se apaga. Não sei onde exatamente esta rota do “menos” vai me levar, mas uma coisa eu posso afirmar: não quero “mais”.